sábado, 8 de outubro de 2016
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
domingo, 11 de setembro de 2016
domingo, 4 de setembro de 2016
Vida cristã: Aflições ao caminhar
Por Jarivelton Rangel
“Tenho-vos dito isto, para que em
mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o
mundo.”
João
6:33
No capítulo 16 do evangelho de João,
Jesus fala aos seus discípulos sobre o momento em que Ele voltaria para o Pai,
fala abertamente sobre coisas que eles ainda não podiam discernir tão bem, mas
que mais tarde entenderiam, lhes fala sobre perseguições, expulsão de sinagogas
e até morte, tudo causado pela anunciação do evangelho.
No capítulo 15 Cristo já lhes havia
falado sobre o mundo o odiar, e consequentemente odiar aqueles que Ele
enviaria, nisto o capítulo 16 termina falando sobre as aflições que teriam em
suas vidas, não só a respeito da tristeza que sofreriam no período de sua morte
até então vê-lo ressuscitado, mas aflições que se estenderiam por toda a vida,
pois ser discípulo de Jesus não significa estar isento das aflições.
Ter aflições neste mundo é uma realidade
para todos, seja cristão ou não, mas aquele que entrega sua vida a Jesus é
convidado a que esteja em paz e tenha bom ânimo, pois Cristo venceu o mundo.
Ter aflições é passar por tristezas,
preocupações, angustias e ansiedades, mas todas estas já foram vencidas por
Cristo, e em saber que o Cordeiro de Deus venceu a morte, ressuscitou, nos
concedeu sua graça nos conduzindo a redenção, faz com que ainda que caminhado
tristes em alguns momentos, angustiados por situações da vida e sofrendo as
pressões do existir, estejamos em paz em nosso coração e em bom ânimo em nosso
espírito.
Momentos difíceis virão, e nestes
momentos de sofrimento, dor e choro, devemos nos agarrar em Jesus Cristo, no
cuidado para com o nosso existir neste mundo, nos seus ensinos e promessas de
vida eterna, na sua graça que nos enche de esperança e gratidão. Caminhar com
Cristo estende nossa visão para além desta vida, sabendo que enquanto aqui a
sua mercê nos sustenta, daqui para a eternidade o que nos aguarda é estar para
sempre com aquele que nos ama, e seu amor nos concede forças meio as aflições
do caminhar.
Seja nas perseguições enquanto
praticando a vida cristã e anunciando o evangelho, seja nas coisas comuns da
vida, neste mundo teremos aflições, pois angustias e ansiedades nos rodeiam e
por vezes nos alcançam e em momentos parecem tirar a força do caminhar. Olhar
ao redor, fazer uma análise da vida, em momentos concluir que propósitos e
objetivos ainda não foram alcançados apesar de tanto tempo já ter passado, nos
localizarmos no espaço tempo da vida e parecer que nossa existência não tem tido
relevância para o que realmente importa, ou que sejam dificuldades em se
encaixar profissionalmente diante do estado caótico de nossa economia, onde o
peso de nossas responsabilidades aumentam e a solução está a perder de vista,
ou seja até mesmo situações de saúde que fazem com que nos sintamos tão fracos
e impotentes enfim, Deus não nos isenta em nada da experiência de existir, mas
Ele nos garante que Nele, está a paz que necessitamos para viver.
O que importa é olhar para Cristo Jesus,
viver centrados em sua verdade e meditando em sua palavra e ensino, não
pensando que enquanto cristãos não deveríamos ter momentos ruins e muito menos
pensar que não podemos ter tristezas, dores, angustias e ansiedades, ou viver
acreditando que tudo tem que dar certo todo o tempo.
Nunca se entregue as dificuldades e nem
desista meio a elas, não se desespere ou pense estar só, é comum nesta vida
termos dias maus, isto não significa ser menos abençoados ou que esteja sem fé,
tudo tem o seu tempo, momentos vem e vão, as coisas na vida mudam e será sempre
assim, mas o que nunca muda e Jesus Cristo em nós e sua palavra que permanece
para sempre.
Deus nos abençoe e bom caminho!
Jarivelto Rangel é o Administrador e
Escritor
do Literatura Teológica
sábado, 27 de fevereiro de 2016
Jejuar é preciso? Qual sua importância?
Por Jarivelton Rangel
“Disseram-lhe, então, eles: Por
que jejuam os discípulos de João muitas vezes, e fazem orações, como também os
dos fariseus, mas os teus comem e bebem?"
Lucas
5:33
Jejuar nem sempre é uma prática
entendida no meio cristão, por que devemos jejuar?No texto acima Jesus responde
aos discípulos de João que enquanto Ele estivesse junto dos seus discípulos,
não seria necessário que eles jejuassem, Jesus com sua fala nos ensina que a
prática do jejum não é simplesmente se abster de alimentos, mas vai além disso.
Os fariseus sempre buscavam se
justificar por meio de suas práticas religiosas, mas jejum não é um ritual
religioso, é algo pessoal, é entre quem jejua e Deus.
”E, quando jejuardes, não vos
mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos,
para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o
seu galardão.”
Mateus
6:16
Praticar o jejum não consiste em
barganhar com Deus, ele não serve como um sacrifício que eu faço para então
Deus ter por obrigação atender o que peço. O jejum muda a pessoa que o pratica
e não a Deus, os favores que Cristo nos concede não é porque fazemos algo para
merecê-los, mas é pura graça.
Então jejuar não é para sermos vistos
como mais santos e espirituais, não é um ritual religioso e nem é para mudar
Deus e fazê-lo atender o que peço, então o que seria?
“Tu, porém, quando jejuares, unge
a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas
a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará
publicamente.”
Mateus
6:17,18
Jejuar não é apenas se abster de
alimentos, mas também de tudo que tire o foco de Cristo, estar em jejum é estar
em oração, num momento de busca intensa por Deus se desligando de tudo que tire
seu pensamento de Jesus. O jejum caminha junto com a oração, os dois devem ser
praticados neste momento, devemos estar a sós com Deus em oração e súplica.
Estar em jejum não é ficar de barriga
vazia vendo tv, com a cabeça cheia dos afazeres de trabalho ou casa, não é
fazer qualquer outra coisa que não seja buscar intimidade e aproximação com o
Espírito.
A recompensa pública que o texto nos
ensina é o fruto do Espírito sendo visto em nós, tamanha é a busca que
começamos a expressar Deus em nosso comportamento, atitude e decisões de uma
forma mais forte, será visível que a os laços de intimidade com Jesus se
estreitaram.
Jejuar é preciso e tem muita importância,
não é uma obrigação ou sacrifício, mas um privilégio. Em momento de
dificuldade, lutas e provações fazer jejum fortalece nossa fé, tendo a fé
fortalecida caminhamos com confiança no poder de Deus descansando em sua
soberania, seja o que for que esteja acontecendo ao nosso redor, seja o fim que
for que qualquer situação tenha, estamos certos de que Jesus está sempre no
controle.
Não é que jejum nos confere poderes de
resistir o mal ou combater contra ele, não é o ritual em si, mas sim nossa
inclinação em nos afastarmos das coisas desta vida e estar mais conscientes da
vontade de Deus, como no caso dos discípulos ao tentarem expulsar um demônio:
“Então os discípulos,
aproximando-se de Jesus em particular, disseram: Por que não pudemos nós
expulsá-lo? E Jesus lhes disse: Por causa de vossa incredulidade; porque em
verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este
monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível. Mas
esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum.”
Mateus
17:19-21
Jesus ensina que é preciso ter fé e
esta fé deve ser praticada e fortalecida, nisso orar e jejuar é o caminho para
estar mais intimo de Deus e mais forte. Não é o fato de praticar um ritual
religioso de oração e jejum que um demônio e expelido, mas sim diante da
autoridade e poder do nome de Jesus e Ele está dentro de todo aquele que ouve
sua palavra e faz sua vontade.
Sejamos iluminados pelo Santo
Espírito... bom caminho!
Jarivelto Rangel é Teólogo
Administrador e
escritor
do Literatura Teológica
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
"Ai de mim!..."
Por Clayton Senziani
"A gente entende
que ter a mente de Cristo é estar debaixo de Sua luz. E quem está debaixo da
luz de Cristo de verdade a primeira coisa que ele enxerga é a si mesmo. E a
única coisa que pode sair da boca é: AI DE MIM!" (Pr Neil Barreto)
“Porque, se alguém
julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana” (Gálatas 6.3)
A bíblia nos ensina que devemos
avaliar a nós mesmos (1Co 11.28, Gl 6.4). Quando uma pessoa se avalia, quando
uma pessoa olha para si mesmo, como citado pelo pastor Neil, a única expressão
sincera que ela pode dar é clamar por misericórdia. Quando olhamos para nós
mesmos e analisamos, podemos ver o quanto necessitamos do amor e perdão de
Deus, compreendemos a verdadeira essência do que é ser cristão. O cristianismo
não prega salvação meritória, isto é, salvação por merecimento. Disso todos nós
sabemos. E esse entendimento nos mostra como devemos agir em nosso cotidiano,
nos aponta para coisas básicas como não se achar maior do que ninguém, por
exemplo.
A soberba é uma grande tentação que
todos nós sofremos. Não devemos olhar para as pessoas de maneira vertical, mas
sim de forma horizontal. As fraquezas do outro incomodam quando são diferentes
das nossas, passamos, então, a olhá-las com desprezo. Lamentável... A Palavra
nos ensina que o corpo de Cristo só é edificado por meio do amor (Ef 4.15), não
por competição. Quando olhamos para o outro com olhar horizontal, passamos a
entender que suas fraquezas são como as nossas, assim, fechamos as portas para
toda ação maligna de acusação e competição.
Não estamos aqui para competir
santidade, mas sim para nos edificarmos em amor. Quando olho pra mim e
manifesto-me de forma sincera (Ai de mim!), entendo que sou apenas mais um que
carece daquilo que só Deus pode me dar, passo a ser um servo humilde perdoado
ao invés de um soberbo cego que caminha para a perdição (Pv 1.32). O Reino de
Deus é para os que se arrependem e não para os que se julgam melhores. Que Deus
nos guarde do engano!
Clayton
Silva Senziani
é estudante de teologia
na
Universidade Metodista de SãoPaulo
e
seminarista atuante na Igreja Metodista em Osasco/SP
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Quero ser mais humano
Por Ricardo
Gondim
É curioso como, com o passar dos anos
e o aproximar da velhice, nossos valores mudam. Posições que ambicionávamos,
conquistas que valorizávamos e pessoas que nos impressionavam, perdem seus
encantos. Vamos fechando portas atrás de nós, para euforias juvenis e idealismos
inconseqüentes. Já não invejamos o triunfo dos insolentes ou o sucesso dos
ufanistas. Hoje, ainda sem ser velho, já consigo sentir indiferença para os
sonhos mirabolantes dos messiânicos. Confesso que perdi, inclusive, a vontade
de ter a última palavra sobre qualquer assunto e não me empolgo com debates que
só dão uma falsa sensação de prestígio.
Esse processo começou, quando
enfrentei uma crise, lá por volta dos meus quarenta anos. A própria consciência
de que vivia na meia idade, me fez desistir de querer ser herói, conquistador,
eleito especial ou semi-deus. E de lá para cá, caminho cada vez mais
consciente, que muito dos meus esforços lendo, estudando, trabalhando,
madrugando e virando noites, para “não perder tempo”, eram vaidade e correr
atrás do vento. Olho para trás e percebo que não foi de minhas poucas conquistas
ou dos reconhecimentos humanos, que obtive meus melhores contentamentos. Vieram
do amor de minha família e de amigos verdadeiros; gente que não temia partilhar
o mesmo jugo que eu.
Assim, fiz alguns ajustes.
Redirecionei minha leitura bíblica. Mais do que saber os detalhes exegéticos ou
técnicos, ansiei que a Palavra me levasse a uma relação mais íntima com Deus.
Reli a Bíblia de capa a capa, procurando o coração paterno de Deus. Dialoguei
com pessoas que tratam da Espiritualidade Clássica. Recompus minha vida
devocional. Aprendi sobre oração contemplativa e redescobri a meditação
bíblica. Devorei alguns clássicos como “A Imitação de Cristo” de Tomás de
Kempis, “A Volta do Filho Pródigo” de Henry Nowen, “A Montanha dos Sete Patamares”
de Thomas Merton e o “Schabat” de Abraham Joshua Heschel. Eles e outros se
tornaram meus mentores nessa nova busca interior.
Talvez, a maior descoberta que faço,
nesse tempo que antecede o outono de minha vida, é que minha maior vocação é
tornar-me mais humano. Desejo aprender a ser generoso e sereno. Almejo rir,
risos contagiantes; quero amar coisas simples e contemplar mais a natureza;
saber me deliciar com arte; brincar com crianças, ler poemas e ouvir a melhor
música. Preciso ser mais empático com o pobre, acolher o perdido e dar minha
mão para o abandonado.
Nessa jornada espiritual, perdi o medo
de me desnudar e mostrar vulnerabilidade. Outrora, eu temia a censura daqueles
que poderiam se escandalizar com minha fragilidade. Tentei, muitas vezes,
impressionar as pessoas com discursos valentes, quando, inseguro, pedia que
Deus segurasse minha mão. Receava que algum psicólogo detectasse
disfuncionalidades em mim e na minha família. Acreditava que, se alguém
diagnosticasse meu envolvimento no evangelho como uma fuga, perderia toda
credibilidade. Evitava contatos íntimos, para que as pessoas não notassem que
eu não era tão “resolvido”, como demonstrava.
Na mitologia grega as sereias eram
criaturas de extraordinária beleza e de uma sensualidade irresistível. Quando
cantavam, atraíam os navegantes que não conseguiam pelejar contra seu poder de
sedução. Obcecados por aquela melodia sobrenatural, os pilotos arremessavam
seus navios contra as rochas da ilha, naufragavam, e as sereias devoravam os
tripulantes. Os gregos relatam que apenas dois conseguiram vencer o encanto de
inimigas tão terríveis.
Orfeu, o deus mitológico da música e
da poesia, encontrou um recurso. Quando sua embarcação aproximou-se de onde estavam
as sereias, ele salvou seus parceiros, tocando uma música ainda mais doce e
envolvente do que aquela que vinha da ilha. A outra solução foi encontrada por
Ulisses. O herói da Odisséia não possuía talentos artísticos. Sem dons, sabia
que não vence-ria as sereias. Reconhecido de sua fraqueza e falibilidade,
concebeu outro plano. No momento em que sua embarcação começasse a se aproximar
da ilha sinistra, mandaria que todos os homens tapassem os ouvidos com cera e
que o amarrassem ao mastro do navio. Depois que encarou sua fraqueza e
incapacidade de enfrentar as armadilhas das sereias, rumou para a ilha conforme
o plano. Do mesmo modo, deu ordem aos tripulantes: mesmo que implorasse para
que o soltassem, as cordas deveriam ser apertadas ainda mais. Quando chegou a
hora, Ulisses foi seduzido pelas sereias como previra, mas seus marinheiros não
o libertaram. Quase louco, pedindo para ser solto, passou incólume pelo perigo.
O relato mitológico termina afirmando que as sereias, decepcionadas por haverem
sido derrotadas por um simples mortal, afogaram-se no mar. O que salvou Ulisses
não foi a percepção de sua superioridade, mas a consciência de sua fragilidade.
Ele não tentou enganar a si mesmo. Eu também não quero me iludir com os meus
dotes órficos. Dependerei que meus amigos me amarrem aos mastros para não ceder
aos cantos sirênicos.
Assim, descanso. Sinto-me livre para
afirmar que ainda estou em construção. Sou um projeto inacabado e não
escamotearei minhas ambigüidades. Agora, quando me sentir cansado, terei liberdade
de desabafar como Jesus: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei
com vocês? Até quando terei que suportá-los?”. (Mateus 17.17) Quando precisar
lamentar, lamentarei, igual a ele, quando, triste e angustiado, disse: “A minha
alma está cheia de tristeza até a morte”. (Mateus 26.37). Quando tiver vontade
de rir, rirei e dançarei de alegria.
Hoje, já não me importo de parecer
incoerente ou politicamente incorreto. Dizem que os pensamentos dos anciões
tendem ao enrijecimento e que os velhos resistem mudar de opinião. Busco não me
engessar, apegado às minhas velhas idéias e indiferente às novas. Quero seguir
o exemplo de Jesus que, em nome da vida, não temeu contradizer as rígidas
normas religiosas – Mateus 12.2-7; não respeitou os preconceitos sociais,
quando conversou com prostitutas e acolheu gentios – Marcos 7.24-30; não teve
receios de voltar atrás em sua palavra, para atender uma mulher siro-fenícia –
Marcos 7.24-30. Permanecerei alerta para não me tornar um dogmático e faccioso;
cego por minha obstinação.
Recuso encarnar o personagem de Álvaro
de Campo (heterônimo de Fernando Pessoa) no poema “A Tabacaria”. A experiência
do poeta foi acordar do próprio passado, como um pesadelo e perceber que perdeu
contato com a sua própria alma. Viveu uma mentira da qual não pôde escapar.
Perdido de si mesmo, não se encontrou mais.
“Vivi, estudei, amei, e até cri.
E hoje não há mendigo que eu não
inveje só por não ser eu...
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e
não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi no espelho, já
tinha envelhecido“.
Anseio por uma humanidade não fingida,
que não tenta transformar a mensagem do evangelho em um espelho mágico, que
fala o que desejo ouvir. Lerei a Bíblia também contra mim. Permitirei que, como
espada, ela penetre no mais profundo de meu ser, discernindo, inclusive, as
intenções nebulosas de meu coração.
Atenderei a admoestação do profeta
Miquéias (6.8): “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor
exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu
Deus”.
Acredito que vem dele, minha teimosia
de acreditar que não precisamos esperar morrer para começar a viver. E como
passamos rapidamente, sugiro que comecemos já.
Soli
Deo Gloria.
A Religião e suas gaiolas
Por Carlos Moreira
Eu acho curioso quando pessoas ligadas
à religião tentam patentear Deus. Sim, eles querem um deus domesticado, alguém
que siga conceitos teológicos pasteurizados, costumes dietéticos, um deus que
se submeta a convenções, que siga liturgias, que cumpra agendas, que consiga
ser explicado, ainda que não possa ser compreendido.
Olhando esta geração, e conhecendo a
história do cristianismo, penso que chegamos à última fronteira, não posso
conceber algo pior. A igreja contemporânea tornou a idade das trevas medievais
um parque de diversões. O que se faz hoje, em nome de Deus, reduziu a inquisição
e as cruzadas a histórias de jardim da infância.
No Brasil, o fenômeno
religioso-cristão é passível de estudo. Ainda que templos e catedrais estejam
lotados, as manifestações de fé são cada vez mais patológicas. A quantidade de
gente adoecida por causa de crenças perversas e infundadas é alarmante. A
religião tem esse poder: quando não sara a consciência, adoece todo o resto. Se
Marx fosse vivo, diria que esse tipo de prática é o “Rivotril do povo”.
O cristianismo brasileiro é, na
verdade, uma hidra com muitas cabeças. A igreja de Roma tenta sobreviver à
secularização, busca de todas as formas preservar heranças moribundas das
práticas ibéricas que submergiram no Velho Continente. A igreja Protestante,
por outro lado, é a expressão da perversão, resultado da alquimia que
simbiotizou doutrinas judaizantes, positivismo filosófico, costumes das religiões
Afro e o pentecostalismo americano do início do século XX. Exceções? Sim, existem,
mas pouquíssimas!
Diante deste cenário, resta-nos
perguntar: o que nós podemos fazer? Bem, penso eu, nada. Não creio que ação de
homem algum, ou de instituição, doutrina, ideologia, métodos ou qualquer outra
coisa seja capaz de alterar a situação. A solução não está no que se pode
fazer, a partir da Terra, mas do que já está sendo feito, a partir dos Céus!
Sim, Deus está se movendo há tempos, nós é que, talvez, ainda não tenhamos
discernido.
Um bom observador, contudo, vai
perceber que estamos diante de algo muito próximo ao que aconteceu nos dias de
Jesus. Naquele tempo, a religião de Israel adoecera de morte. As práticas eram
lesivas, o sacerdócio havia se transformado em exercício político, a interpretação
da Lei era tendenciosa, o Sinédrio estava corrompido, a fé havia se dessignifcado.
A corrupção era tal que o lugar da adoração transformou-se em centro de comércio,
impulsionava a Nação. Nada do que se fazia ali tinha significados para Deus,
até o perdão tornara-se negó-cio, era vendido e comprado por preço. Tudo tão
semelhantes aos nossos dias...
Mas Deus tinha seus próprios planos.
Ele irrompeu as tradições, desprezou geografias pseudo-sagradas, ignorou
hierarquias, sublevou interesses e enviou João, o batista, para o deserto. Lá,
ele pregava o arrependimento e conclamava o povo a mudança de vida, afirmava
que o Reino de Deus estava próximo, Reino de consciência e fé, não de aparência
e opulência.
Na verdade, o Senhor sabia que Anás e
Caifás não se converteriam, que Herodes não se renderia a Graça, nem tão pouco
o Sinédrio se sensibilizaria ao Evangelho. Por isso João foi enviado ao
deserto, sem Templo, sem utensílios sagrados, sem os rolos da Torá, sem lugar
para sacrifícios, sem liturgias, sem levitas, sem nada que não fosse o Espírito
Santo, a Voz do que clamava no deserto! Nós sempre imaginamos que a solução
para tudo está do “lado de dentro” da igreja, mas Deus, não raro, começa agindo
no deserto, do “lado de fora”!
Dali por diante, quebrados os
paradigmas, o Galileu foi “destruindo” o que encontrou pela frente, mitos foram
caindo, um por um. Ele afirmava as multidões: “Ouvistes o que foi dito aos
antigos...” e expunha os preceitos caducos da Lei. Em seguida, todavia,
afirmava com autoridade: “Eu, porém, vos digo...”, e dava novo significado a
tudo. Com leveza, o Evangelho foi sendo fecundado no coração das pessoas e os
simples de coração puderam entendê-lo.
A igreja cristã brasileira pensa ser
proprietária da fé em Jesus. Católicos e Protestantes se arvoram como
legitimadores do Evangelho. Trancafiados em suas “gaiolas”, imaginam que o
Senhor juntou-se a eles. Engano. Deus é claustrofóbico! Saiu da “arapuca” faz
tempo. Aqueles que ainda enxergam e são honestos sabem que o “sistema” está
condenado! Sim, há muita gente boa na Instituição-Igreja, gente de Deus, mas a
luta deles é inglória, não há como salvar aquilo que já nasceu condenado. A
igreja de Jesus triunfará! A dos homens, não...
É tempo de perceber o que o está
acontecendo! Milhares começam a surgir, de todos os lugares, filhos da
Esperança e da Graça, e esses não estão vinculados a nada, são apenas pessoinhas
do bem, gente de coração singelo e boa consciência, sem tradições, sem
liturgias, credos ou dogmas. Eles vão por aí, estão em pequenos grupos, em
ajuntamentos informais, comunidades livres, partem o pão, falam com Salmos,
sensibilizam-se com as dores das pessoas, comprometem-se com ações que promovam
a dignidade humana e a preservação do Planeta.
O que posso lhe dizer, depois destes
mais de 30 anos caminhando com Jesus, é que “O vento sopra onde quer. Você o
escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai”. Há, novamente,
muitas vozes que clamam no “deserto” e elas estão anunciando o arrependimento e
a Salvação. Algo está se movendo, cada vez mais veloz, o Vento está soprando, livre
e leve, portanto, discirna para onde está indo e siga junto com ele.
©
2015 Carlos Moreira
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