Por Carlos Moreira
Eu acho curioso quando pessoas ligadas
à religião tentam patentear Deus. Sim, eles querem um deus domesticado, alguém
que siga conceitos teológicos pasteurizados, costumes dietéticos, um deus que
se submeta a convenções, que siga liturgias, que cumpra agendas, que consiga
ser explicado, ainda que não possa ser compreendido.
Olhando esta geração, e conhecendo a
história do cristianismo, penso que chegamos à última fronteira, não posso
conceber algo pior. A igreja contemporânea tornou a idade das trevas medievais
um parque de diversões. O que se faz hoje, em nome de Deus, reduziu a inquisição
e as cruzadas a histórias de jardim da infância.
No Brasil, o fenômeno
religioso-cristão é passível de estudo. Ainda que templos e catedrais estejam
lotados, as manifestações de fé são cada vez mais patológicas. A quantidade de
gente adoecida por causa de crenças perversas e infundadas é alarmante. A
religião tem esse poder: quando não sara a consciência, adoece todo o resto. Se
Marx fosse vivo, diria que esse tipo de prática é o “Rivotril do povo”.
O cristianismo brasileiro é, na
verdade, uma hidra com muitas cabeças. A igreja de Roma tenta sobreviver à
secularização, busca de todas as formas preservar heranças moribundas das
práticas ibéricas que submergiram no Velho Continente. A igreja Protestante,
por outro lado, é a expressão da perversão, resultado da alquimia que
simbiotizou doutrinas judaizantes, positivismo filosófico, costumes das religiões
Afro e o pentecostalismo americano do início do século XX. Exceções? Sim, existem,
mas pouquíssimas!
Diante deste cenário, resta-nos
perguntar: o que nós podemos fazer? Bem, penso eu, nada. Não creio que ação de
homem algum, ou de instituição, doutrina, ideologia, métodos ou qualquer outra
coisa seja capaz de alterar a situação. A solução não está no que se pode
fazer, a partir da Terra, mas do que já está sendo feito, a partir dos Céus!
Sim, Deus está se movendo há tempos, nós é que, talvez, ainda não tenhamos
discernido.
Um bom observador, contudo, vai
perceber que estamos diante de algo muito próximo ao que aconteceu nos dias de
Jesus. Naquele tempo, a religião de Israel adoecera de morte. As práticas eram
lesivas, o sacerdócio havia se transformado em exercício político, a interpretação
da Lei era tendenciosa, o Sinédrio estava corrompido, a fé havia se dessignifcado.
A corrupção era tal que o lugar da adoração transformou-se em centro de comércio,
impulsionava a Nação. Nada do que se fazia ali tinha significados para Deus,
até o perdão tornara-se negó-cio, era vendido e comprado por preço. Tudo tão
semelhantes aos nossos dias...
Mas Deus tinha seus próprios planos.
Ele irrompeu as tradições, desprezou geografias pseudo-sagradas, ignorou
hierarquias, sublevou interesses e enviou João, o batista, para o deserto. Lá,
ele pregava o arrependimento e conclamava o povo a mudança de vida, afirmava
que o Reino de Deus estava próximo, Reino de consciência e fé, não de aparência
e opulência.
Na verdade, o Senhor sabia que Anás e
Caifás não se converteriam, que Herodes não se renderia a Graça, nem tão pouco
o Sinédrio se sensibilizaria ao Evangelho. Por isso João foi enviado ao
deserto, sem Templo, sem utensílios sagrados, sem os rolos da Torá, sem lugar
para sacrifícios, sem liturgias, sem levitas, sem nada que não fosse o Espírito
Santo, a Voz do que clamava no deserto! Nós sempre imaginamos que a solução
para tudo está do “lado de dentro” da igreja, mas Deus, não raro, começa agindo
no deserto, do “lado de fora”!
Dali por diante, quebrados os
paradigmas, o Galileu foi “destruindo” o que encontrou pela frente, mitos foram
caindo, um por um. Ele afirmava as multidões: “Ouvistes o que foi dito aos
antigos...” e expunha os preceitos caducos da Lei. Em seguida, todavia,
afirmava com autoridade: “Eu, porém, vos digo...”, e dava novo significado a
tudo. Com leveza, o Evangelho foi sendo fecundado no coração das pessoas e os
simples de coração puderam entendê-lo.
A igreja cristã brasileira pensa ser
proprietária da fé em Jesus. Católicos e Protestantes se arvoram como
legitimadores do Evangelho. Trancafiados em suas “gaiolas”, imaginam que o
Senhor juntou-se a eles. Engano. Deus é claustrofóbico! Saiu da “arapuca” faz
tempo. Aqueles que ainda enxergam e são honestos sabem que o “sistema” está
condenado! Sim, há muita gente boa na Instituição-Igreja, gente de Deus, mas a
luta deles é inglória, não há como salvar aquilo que já nasceu condenado. A
igreja de Jesus triunfará! A dos homens, não...
É tempo de perceber o que o está
acontecendo! Milhares começam a surgir, de todos os lugares, filhos da
Esperança e da Graça, e esses não estão vinculados a nada, são apenas pessoinhas
do bem, gente de coração singelo e boa consciência, sem tradições, sem
liturgias, credos ou dogmas. Eles vão por aí, estão em pequenos grupos, em
ajuntamentos informais, comunidades livres, partem o pão, falam com Salmos,
sensibilizam-se com as dores das pessoas, comprometem-se com ações que promovam
a dignidade humana e a preservação do Planeta.
O que posso lhe dizer, depois destes
mais de 30 anos caminhando com Jesus, é que “O vento sopra onde quer. Você o
escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai”. Há, novamente,
muitas vozes que clamam no “deserto” e elas estão anunciando o arrependimento e
a Salvação. Algo está se movendo, cada vez mais veloz, o Vento está soprando, livre
e leve, portanto, discirna para onde está indo e siga junto com ele.
©
2015 Carlos Moreira
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